Uma Pessoa Especial

É difícil acreditar que isto tenha acontecido a alguém tão são.

Porque é assim que eu vejo o João: como uma das pessoas mais sãs que eu conheço. Sã de espírito, de verdadeira alegria de viver. Porque o João tinha a arte de viver de forma simples e despretenciosa e, ao mesmo tempo e sem ser contraditório, contratar uma decoradora profissional para lhe "artilhar" o apartamento, a sabedoria de dar aquelas festas memoráveis sem ser um homem da noite, a arte de seduzir e divertir-se sem deixar de querer ser um "family man", de aproveitar tudo ao máximo e ser um "tipo normal".

Há pessoas, raras, especiais, que fazem tudo na vida com uma enorme naturalidade. Não que não tenham dificuldades, nem que não tenham o chamado killer instinct (e apesar de não me ter cruzado com ele profissionalmente, estou seguro que ele o tinha - e ainda bem). Mas a sua simplicidade, inteligência, abertura de coração, sentido de humor e enorme bom senso desarmam e conquistam as pessoas e tornam problemas insolúveis ou grandes dúvidas e dramas em meros contratempos e oportunidades. O João era assim e creio que esta foi uma das grandes lições que aprendi com ele e de que espero nunca me esquecer.

Madrid, que foi onde nos conhecemos e fomos vizinhos durante algum tempo, não mais será a mesma e haverá sempre uma aura de tristeza em cada regresso. Mas sei que sempre que passear pelas ruas do Bairro de Salamanca, onde tantas vezes nos encontrámos, terei presente e reviverei aquelas características do João que com elas se confundem: uma elegância consumada mas discreta, uma sofisticação natural (ou simplicidade chique) e, acima de tudo o resto, aquele fantástico "salero" e alegria de viver que nos marcam e contagiam.

Clemente